quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vozes

  Acordar não é o começo de um dia. Vozes ruidosas são como biribas pipocando em minha cabeça.
  Levanto-me muito lentamente, mas o sol não bloqueia a avalanche mental de estrondos vocais. O nascente não alivia. Pelo contrário. Essas vozes são como agulhas espetando na testa. Que fadiga é manter o elo com os donos das vozes! Seria um bálsamo nada escutar!
  Percebo, cara amiga, que não há como escapar delas, não consigo fugir de nada, nem de dia nem de noite.
  Amiga, lembra-se de nossa infância, quando, sem culpa, provávamos aventuras na mata, rindo e brincando?
  Quero viver outra vez momentos de pura simplicidade, mas me vejo na voz do impossível. Vejo-me embrenhada nos galhos ressecados daquela mata, nas jibóias a parasitar as árvores, nos troncos carcomidos pelos cupins. Estou prestes a ser derrotada pelos mosquitos minusculamente irritantes que sobrevivem na fauna falecida.
  Irritante sou eu, que não suporto nada, nem presente nem passado.
  Porém, estou perto de chegar a algo que incita minha curiosidade. Uma área preservada, sem passado, sem presente.

(autor: Paula D. A Hilgeland, a criadora deste blog; texto elaborado nas aulas de Noemi Jaffe, na Casa do Saber, set/2011)

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